Essa história a dois

Brincar até não aguentar mais era o que queria cada um desses palhaços quando se viam toda vez. Na vizinhança onde a picula, a contação de histórias, o esconde-esconde eram as melhores coisas a fazer nas tardes da semana, Fulana e Melão só queriam saber de rir, rir e rir. Até dar dor de barriga.

Os encontros eram sempre marcados no parquinho da praça central, perto do balanço, o brinquedo do qual os dois podiam ver o mundo de cabeça pra baixo. Um dia, o quintal que habitavam ficou maior do que os gradis que cercavam as lonas dos circos onde foram criados, e decidiram tornar suas vidas uma livre ciranda, dando as mãos a quem chegasse, abraçando um mundo que fosse sem fronteiras para a diversão.

 

Fulana por Fulana?

Inadequaaada, esqueciiiiida, perdiiida – não à toa, sempre esquece de tirar o pregador de roupas do seu vestido. Aliás, seu vestido diz muito sobre ela, porque é e não é um vestido (assim como o nome Fulana, porque cabe em qualquer conversa, ao se referir a qualquer tipo de pessoa). Permanece o amor em seu nariz de coração (ela nasceu apaixonada), em querer dar às coisas funções diferentes das já estabelecidas e na sua fissura por dançar e dançar. Quando dança, Fulana se torna “a Tal”. Mas ela logo vem abaixo, pois o fracasso lhe cai bem. Ela gosta de ajudar o Melão quando ele sente medo. E ela sente dor quando ele a empurra com aquele seu sapato maior que a orla de Salvador (lá na Bahia). E ele sempre faz isso – é uó!


É uma eterna (des)construção. Estabanada, frenética demais às vezes. Mas, ainda assim, Fulana acredita que um dia vai levitar


 

 


Melão Cólico de poucas lágrimas

Ultimamente, tem sido mais Melão do que Cólico… só que, sem muito esforço, guarda a tristeza encruada por trás da palidez da maquiagem. A melancolia é o rubor das bochechas, dos lábios mordidos e quase sempre arqueados para baixo. Por dentro, menos coragem do que tudo – mais cautela, por consequência – embora queira ser um aventureiro de carteirinha. O choro profundamente sentido na feição, na dor do olhar encharcado. É um palhaço de poucas lágrimas, mas de expressiva inadequação. Adora colírios. Verborrágico, Melão é o sinal que leva no rodapé da bochecha, tal qual o da Madonna: um ponto de destaque em meio ao rosto, a alegria condensada na cara de um campo fantasiado de tristeza.


Um palhaço no fundo do poço, retirando baldes e baldes de alegria de uma fonte de melancolia sem fim


AMIZADE À VISTA | Fulana é a bravura mostrada em braços da finura de secos galhos. Melão é a fragilidade de um imaginário que nunca sairia do lugar se não fosse pela força da companheira.

 

FULANA E MELÃO